Charles Darwin e o Beagle no Brasil


No dia 27 de dezembro de 1831, durante o reinado de Guilherme IV, o navio Beagle, formalmente chamado de Her Majesty Ship Beagle, zarpou no porto de Devon, no sudoeste da Inglaterra, com destino à América do Sul. A bordo dele estava o jovem Charles Darwin (1809-1882), no início do que veio a ser a sua brilhante carreira como naturalista e cientista.

Como Darwin explicou em suas memórias de viagem, intitulada The Voyage of the Beagle (ou Viagem de um naturalista ao redor do mundo, publicado pela L&M Pocket), o objetivo da expedição era completar o estudo das costas da Patagônia e da Terra do Fogo (iniciado de 1826 a 1830, pelo capitão Phillip Parker King), mapear as costas do Chile, do Perú e de algumas ilhas do Pacífico e fazer uma série de tomadas cronométricas ao redor do mundo. O objetivo dele, como estudante da Universidade de Cambridge, era coletar espécies de fauna e flora e enviá-los para serem analistas por peritos ingleses, entre eles o amigo John Stevens Henslow, que foi quem o indicou para a viagem.

Os primeiros dias a bordo do Beagle não foram fáceis para o jovem de Shrewsbury; mas, aos poucos, ele se adaptou e passou a aproveitar a experiência. 

Capitaneado por Robert FitzRoy, o navio passou por algumas ilhas ao longo do continente africano, antes de tomar o rumo do Brasil. Em 20 de fevereiro de 1832, a tripulação chegou em Fernando de Noronha, onde ficou por algumas horas. Sobre o pouco que viu no local, Charles fez o seguinte comentário.

"Toda a ilha está coberta de arvoredos; mas, devido ao clima seco, a vegetação não se mostra luxuriante."

Nove dias depois, Darwin pisou em solo baiano, onde passou por alguns momentos que qualificou como "deliciosos".

"Delícia, no entanto, é um termo insuficiente para dar conta das emoções sentidas por um naturalista que, pela primeira vez, se viu a sós com a natureza no seio de uma floresta brasileira. A elegância da relva, a novidade das plantas parasitas, a beleza das flores, o verde vivo das ramagens e, acima de tudo, a exuberância da vegetação em geral me encheram de admiração."

No dia 4 de abril de 1832, o Beagle ancorou no Rio de Janeiro. Nem bem pisou no território fluminense e o britânico decidiu acompanhar outras seis pessoas numa viagem até Cabo Frio, para visitar a propriedade que um conterrâneo seu tinha por lá. Darwin descreve essa viagem com detalhes, comentando tanto sobre as coisas boas como as ruins que presenciou pelo caminho. 

Do lado positivo, o inglês se impressionou com a vista deslumbrante e as cores intensas do mar e com as plantas suculentas, as belas aves ribeirinhas e a grandiosidade das árvores na mata. Do lado negativo, o calor intenso, a falta de educação dos donos da maior parte das vendas onde a caravana pernoitou e as atrocidades cometidas contra os escravos o deixaram horrorizado. Na época, o café como o principal produto do país e a extensão de terra plantada chamaram a sua atenção, motivando-o a fazer previsões sobre o assunto:

"Levando em conta a enorme superfície do Brasil, a proporção de terras cultivadas é insignificante se tomamos as extensões abandonadas ao estado da natureza: numa era futura, que população imensa esse país não sustentará!"

Pois é. Hoje, somos cerca de 215 milhões de pessoas!

Na capital, Darwin ficou hospedado numa quinta do bairro de Botafogo. Dá para imaginar a vista belíssima que ele teve por alí, não é? Morro da Urca e Pão de Acúcar de um lado; Floresta da Tijuca do outro...

"Era impossível se desejar coisa mais deliciosa do que passar assim algumas semanas num país tão magnífico... A casa em que me encontrava hospedado estava situada bem debaixo da famosa montanha do Corcovado."

Darwin ficou impressionado com a quantidade de atrativos naturais e espécies diferentes de fauna e flora que encontrou para catalogar nas diversas vezes que visitou a Floresta da Tijuca: rãs, vagalumes, pássaros, besouros, fungos e insetos, muitos insetos. 

"Nunca voltei dessas excursões de mãos vazias."

Particularmente, eu gostei muito de ler sobre o seu passeio ao Jardim Botânico, onde ele se dedicou a estudar as plantas.

"As folhas da cânfora, a pimenta, a canela e o cravo desprendiam um aroma delicioso; e a fruta-pão, a jaca e a manga disputavam entre si pela magnificência de suas folhagens."

Nota: Eu estive no jardim, há alguns anos, e fiz uma parte da trilha de Darwin, sinalizada e mantida pela administração do parque como "Caminhos Darwin". Ali, eu fiquei encantada com uma planta que não foi mencionada pelo naturalista em sua passagem pelo local: a vitória-régia. Um dos lagos do jardim é ocupado por várias delas, sendo ele um dos espaços mais bonitos que existe ali.

Fotos: Fran Mateus

O Beagle partiu do Rio de Janeiro em 5 de julho de 1832, levando Charles Darwin para conhecer paisagens do Uruguai, Argentina, Chile e Perú, antes de seguir para as Ilhas Galápagos, no território do Equador. Essa parte da viagem o fez, anos depois, pensar muito sobre a origem e evolução das espécies. Mas esse é um assunto para outro post. 

Na rota do Beagle ainda constaram algumas paragens no Tahiti e na Oceania, antes do seu retorno à Inglaterra no dia 2 de outubro de 1836. 

Resumindo, o jovem Charles Darwin viveu 5 anos de muitas aventuras e descobertas ao redor do mundo, numa viagem que mudou a sua vida.

📗

O objetivo desta publicação foi compartilhar com você algumas informações sobre a passagem de Charles Darwin pelo Brasil, naquela que se tornou a sua viagem mais longa e mais conhecida. Se você se interessou por essa aventura e quiser saber mais, ou quiser saber tudo, a minha dica é que leia, na íntegra, o texto escrito por ele: Viagem de um naturalista ao redor do mundo (L&M Pocket) ou The Voyage of the Beagle (disponível, em inglês, no site Project Gutenberg). Além de exímio cientista, Darwin também provou ser um excelente escritor da sua própria história.

Para ver Charles Darwin na telinha, sugiro o filme "Criação" (2009), com Paul Bettany no papel do cientista.


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