Um café com Hemingway
“Faço a ronda dos cafés e depois me divirto nas corridas de cavalos.”
(Ernest Hemingway, em “Paris é uma festa”).
Hemingway, Hardley e amigos no Café Iruña, em Julho de 1925 |
Ernest Hemingway é conhecido entre os seus fãs, carinhosamente, como o ‘Papa’ da literatura americana. Como apreciadora da sua obra e, também, de um bom café, eu adoraria convidá-lo (mesmo que imaginariamente) para fazer a famosa 'Ronda dos Cafés' que ele cita em "Paris é uma festa". Além do estilo 'verdadeiro' de Hemingway, compartilho da sua opinião sobre muitas coisas, como por exemplo, esta sua afirmação:
“As pessoas de quem eu gostava, mas que não conhecia, iam aos grandes cafés porque se podiam perder neles; ninguém as notava e, assim, podiam estar sós e ao mesmo tempo acompanhadas.”
Adoro a 'solidão acompanhada' dos grandes cafés e o convidaria, com entusiasmo, para ir a uma das cafeterias da Starbucks. Mas, como acredito que ele não iria curtir muito esta inovação, penso que seria bom levá-lo a alguns dos cafés do seu passado, para relembrar os velhos tempos.
Estátua de Hemingway no Café Iruña www.sanfermintravelcentral.com |
Nosso tour começaria com um café da manhã em Pamplona, na Espanha, no inesquecível Café Iruña, cenário de seus queridos personagens, Jake, Brett, Mike, Bill e Cohn, do livro O Sol Também se Levanta. O quinteto poderia nos acompanhar se não estivesse tão ocupado com as touradas.
Café Cova www.telegraph.co.uk |
Próximo destino: Milão, na Itália. Discutiríamos sobre Adeus às Armas no Café Cova, com um machiato após o almoço. Iniciados, jamais pediríamos cappuccino neste horário, pois isso seria motivo de chacota entre os locais. Voltando ao romance, gostei da estória, mas emudeci com o final entre Fred e Cat. Daria algumas ideias e agradeceria se Hemingway não as levasse em consideração. Afinal, o seu livro está irretocável.
O Closerie de Lilas, em 1909, alguns anos antes de Hemingway passar a frequentá-lo e imortalizá-lo em "Paris é uma Festa" e em "O Sol Também se Levanta" |
Encerraríamos o dia glorioso em Paris, França. Com tantas opções de café frequentadas pelo ´Papa’, um leitor menos atento teria dificuldades em eleger um deles para um encontro com Tatie. O homem curtia tanto um bom café (e outros tipos de bebidas mais 'quentes' que um inocente cafezinho) que, às vezes, se esquecia do nome do lugar.
“Continuei a descer, passei pelo Clury e o Boulevard Saint-Germain, até que cheguei a um bom café que eu conhecia, na Place Saint-Michel. Era um café agradável, quente, limpo e acolhedor. Pendurei minha velha capa no cabide para secar, coloquei meu surrado e desbotado chapéu de feltro na prateleira que ficava por cima dos bancos e pedi um café au lait.”
Mas, eu não sou qualquer leitora. Eu sou, assim como Hem, uma apaixonada por café e o levaria ao Closerie de Lilas. Seria um sucesso! Sei que ele adora o lugar e guarda boas lembranças dali.
“Um dos melhores cafés de Paris, sem a menor dúvida, seu interior era bem aquecido e, na primavera e no outono, era muito agradável ficar-se na parte externa, tanto nas mesas à sombra das árvores que davam para a estátua do Marechal Ney, como nas outras, quadradas, bem distribuídas sob o grande toldo ao longo do boulevard.”
Optaríamos, seguramente, por uma mesa sob as árvores. Com os nossos cafés-crème servidos, minhas perguntas ao ‘Papa’ girariam em torno de sua vida em Cuba. Gostaria de entender o que o motivou a escrever “O Velho e o Mar” e o porquê de morar em Havana. Iria querer saber como ele se sente sabendo que pessoas do mundo inteiro amam o seu trabalho, visitam os lugares por onde ele passou e se inspiram no seu modo de vida: bebida, pescarias, festas, viagens e muita paixão na vida.
O café como companheiro de trabalho. |
Um dia assim, acompanhada de Hemingway e dos cafés do seu passado, seria fantástico. Como não é possível realizar este desejo no mundo real, eu posso fazê-lo aqui neste espaço virtual, que é dedicado às pessoas que, assim como eu e ele, adoram viagens, boas estórias e cafés!
Se estivesse vivo, Ernest Hemingway teria 113 anos de idade. Ele faleceu em 02 de julho de 1961 e deixou uma imensa obra para lermos quando sentirmos saudades, de preferência, acompanhados de um bom cafezinho, em algum lugar acolhedor da cidade.
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